O Campeonato Brasileiro de Futebol com Pontos Corridos é o Plano Real do nosso futebol

Já se vão mais de 20 anos do campeonato brasileiro de futebol no formato de pontos corridos. Para quem é da geração Z – nascidos no intervalo entre 1997 a 2012 – talvez isso não faça muita diferença, porque essa seja a única forma de se lembrar de como tem sido disputada essa competição.

Criado em 1971, o campeonato brasileiro de futebol masculino chegou a ter uma forma de disputa diferente quase de ano para ano: já teve no regulamento que a torcida valia ponto (1974), contou com 94 equipes inscritas (1976), o empate na fase classificatória terminava com cobrança de pênaltis (1988) e o ano mais polêmico de todos, foi quando Flamengo e Internacional (pertencentes ao Módulo Verde), precisavam enfrentar as equipes de Sport e Guarani (Módulo Amarelo) para decidir o campeão brasileiro de 1987, mas não houve acordo. Poucas palavras para uma situação complexa que foi parar no tapetão.

Sport: Há 35 anos, Campeão Brasileiro de 1987                      Sport Club do Recife: considerado pela CBF como o campeão brasileiro de 1987

Quanta “virada de mesa” existia nesses campeonatos! Aliás, virada de mesa é uma expressão que já entrega a idade da pessoa.

Comparo essa instabilidade em respeitar os regulamentos do futebol com o cenário político-econômico do País durante esse período. Tudo era muito difícil de planejar, sobretudo durante o início da década de 1980 e meados da década de 1990, quando sucessivos planos de contenção inflacionária, ou como a imprensa escrevia na época, os “Pacotes Econômicos”. Esses procuravam diminuir a velocidade dos aumentos de produtos e serviços, na tentativa de trazer confiabilidade para as diversas moedas que os governos iam criando nesse curto período.

Assim era nossa economia, assim também era nossa vida social: contratos eram atrelados à moeda americana e tudo era complicado, porque ninguém sabia, de verdade, quanto custaria um apartamento, um carro ou mesmo um quilo de feijão em um intervalo de, por exemplo, 2 dias. Quem podia comprava tudo pela manhã, porque à tarde o preço já era outro. 

Numa sociedade em que a imprevisibilidade era a regra, acredito que isso também se estendia para o ambiente esportivo. Sei que é um argumento fácil de ser criticado, porque uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa; mas é fato que só agora temos uma moeda que conhecemos seu nome e, mesmo com todas as dificuldades, alcançou 30 anos de idade. Isso foi uma conquista alcançada com sacrifício do nosso povo, não apenas dos líderes políticos, mas é preciso ressaltar a coragem e inteligência dos que estavam à frente das decisões naquele período.

E é um fato interessante que no futebol brasileiro tenha se encontrado uma forma de disputa com pontos corridos, e que perdura há mais de duas décadas. Sem fase eliminatória, sem cruzamento de grupos, com certa regularidade e obediência ao que se assentiu no regulamento.

O campeonato brasileiro de futebol masculino tem agora similaridade com outros campeonatos nacionais pelo mundo e, talvez, receba críticas por isso. Mesmo com os desafios de um país de dimensão continental, na maioria das vezes, sabemos quem joga com quem, onde, qual dia e horário. Isso tudo planejado e apresentado. Não é pouca coisa.

Afinal, como diz o ditado:

“No Brasil até o passado é incerto. ”


Referências bibliográficas: 

Recordes, títulos e destaques dos 20 anos do Brasileirão dos pontos corridos; confira os rankings (globo.com)

ComCiência – A geração Z e o papel das tecnologias digitais na construção do pensamento (scielo.br)

A evolução do formato dos campeonatos nacionais | Assaí Atacadista (assai.com.br)

Saga brasileira: a longa luta de um povo por sua moeda, de Miriam Leitão. Rio de Janeiro, Editora Record, 2011.

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