Nesta semana, o Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte divulga a última parte da entrevista concedida pelo jornalista e pesquisador da Mackenzie-São Paulo Anderson Gurgel Campos.
Cada vez mais os Jogos Olímpicos se aproximam do seu início: estamos a apenas 168 dias do pontapé inicial do maior evento esportivo do mundo em solo brasileiro. Essa expectativa suscita inúmeros debates promovidos por especialistas não apenas sobre questões como o legado para a cidade e para o esporte nacional, mas também os caminhos trilhados pela organização de megaeventos em termos midiáticos e publicitários.
O Comitê Olímpico Internacional transformou, em poucas décadas, os Jogos Olímpicos em uma grande vitrine para governos, veículos de comunicação e patrocinadores. Bilhões de pessoas assistem às competições durante os 16 dias de evento, grandes emissoras competem vorazmente pelos direitos de transmissão e, mesmo em tempos de baixo crescimento econômico global, inúmeras empresas desejam associar-se a uma marca valiosa como a das Olimpíadas, ao ponto de uma cadeia de fast-food se intitular, paradoxalmente, como “restaurante oficial dos Jogos”.
Anderson Gurgel afirma que o espetáculo inserido ao contexto dos Jogos se enquadra de forma lucrativa como um produto atraente em uma sociedade de consumo:
“O megaevento não gera mídia, ele já está concebido como um produto midiático. Por ter ídolos, mídia e uma construção cênica, os Jogos são um produto atraente. Para alcançar a audiência global que as Olimpíadas possuem, é preciso construir uma série de imagens e narrativas. Isso faz com que as pessoas se enganem ao diferenciar imagem de esporte. Esporte é estar em contato com o acontecimento e suas emoções. Como se compensa essa ausência em um público que não acompanha os Jogos in-loco, apenas pela TV ou internet? Criando narrativas, ídolos, inovando em recursos tecnológicos para substituir a sensação de compartilhar um evento com outras pessoas em arenas e estádios. Como consequência, o esporte deixa o protagonismo para ser um mero coadjuvante.”
De fato, um exemplo desse cenário inerente aos Jogos é a criação do quadro de medalhas, que induz a competição em um evento cujo princípio-base é a união e a harmonia entre diferentes povos e culturas, como afirma a “Carta Olímpica”. As cerimônias de abertura e encerramento não deixam também de ser reflexo dessa espetacularização, onde o esporte pouco aparece em meio a cantores, companhias de dança e efeitos pirotécnicos.

A essência do esporte é atuar como um marco civilizatório em um período da humanidade marcado por muitas turbulências políticas, econômicas e culturais. O espetáculo é algo indissociável do esporte, ainda mais se considerá-lo também como entretenimento. No entanto, os valores difundidos pelo esporte não podem ser esquecidos por causa de um mero show, por mais irreverente, emocionante e demandado pelo público que seja.
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