Correr é um ato humano

Se há uma atividade que existe há muitos, e muitos anos, é o ato de correr.

Nada de musculação, exercício funcional ou ginástica. 

Nossa espécie evoluiu no planeta a partir da forma bípede, e, por isso, se utilizou das pernas, colocando-as em ação: sendo a caça ou o caçador, devemos muito aos nossos antepassados. Eles trouxeram alimentos e conseguiram ser bem-sucedidos fugindo dos seus algozes, quando necessário. Isso se deu através de corridas que tinham como objetivo a sobrevivência.

Nada de quilometragem semanal, tênis confortáveis ou planilha de treinos. 

98ª edição da Corrida Internacional de São Silvestre, em São Paulo
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Entre essas corridas e as de hoje existe uma significativa diferença em sua utilização. Nenhum antepassado que tinha que correr atrás de comida podia se dar ao luxo de correr à toa, sem necessidade ou precisão. A corrida tinha um fim utilitário, não um prazer civilizacional. 

Para nós, fora uma corrida ou outra para fugir do perigo – afinal, sabemos bem onde vivemos –, a maioria das vezes se corre com o objetivo de praticar exercícios físicos que vão nos ajudar em nossa saúde física e mental. Assim, a gente hoje não faz nada mais do que repetir um gesto motor antigo, igual ao realizado pelos que vieram muito tempo antes de nós, quando se pensa em ir para as ruas e esteiras nas horas de lazer, seja para entrar em forma, seja para desestressar.

O fenômeno das corridas de rua acontece na forma de evento em praias, praças e trilhas. Para quem mora no Rio de Janeiro, é possível ver provas no Aterro do Flamengo, nas areias do Leblon ou nas trilhas da Flores da Tijuca. Elas acontecem de manhã bem cedo nos dias de semana e até mesmo nas noites de sábado.

Corredores da Maratona do Rio
Foto: Guilherme Leporace/Maratona do Rio

E a quilometragem também varia: corridas de 5km, 10km, meia maratona, ultramaratonas… tudo isso ao gosto do praticante. Quer seja ele iniciante ou veterano, há um sentido para quem adere a essa atividade física. Isso porque uma coisa é você correr por 30 minutos, outra é ficar mais de 12 horas para alcançar a linha de chegada. 

O fenômeno das corridas está espalhado nas grandes metrópoles mundo afora. Toda cidade importante e que tem a capacidade de receber turistas tem sua prova de maratona. Paris, Nova York, Tóquio, Rio… entre tantas outras.

Para os pesquisadores da área social, a corrida é uma oportunidade de análise sobre o perfil do praticante: classe social, etnia, gênero, nível de escolarização, acesso às áreas públicas de lazer, bem como as distintas formas de motivação. A corrida é, junto com outras atividades físicas e esportes, uma espécie de distinção social, de formação identitária, em suas redes de relacionamento e interação. 

Nada mais justo que a corrida seja tratada como um objeto de pesquisa, com formas de abordagem metodológicas diversificadas, a partir do que dela se quer extrair.  

Afinal, a gente não precisa mais correr dos leões, mas a gente continua correndo  como forma de esporte, lazer e fruição. 

Já deu sua corridinha hoje? 

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