Flazoeiro, um influenciador digital focado no Flamengo, destaca-se no cenário esportivo como o maior canal de um torcedor de futebol no YouTube, de Guilherme Pinheiro, 31 anos, rubro-negro, conta com 2,26 milhões de inscritos, usando uma narrativa da similaridade com o público.
Apesar de ter um terço dos inscritos comparado ao canal oficial do Flamengo, FlaTV, Flazoeiro se destaca pela interatividade, bom relacionamento com as fontes e presença nos locais dos eventos. A atenção dada ao nicho de conteúdo sobre o Flamengo no YouTube reflete a coexistência de comunicação de massa e mercados de nicho.
Por um lado, ao se autorreferenciarem e utilizarem o espaço da mídia para construir sua própria imagem, os youtubers promovem uma forma de discurso rebelde, que se afasta das práticas tradicionais do jornalismo e propõe uma nova maneira de se relacionar com o público.
3 Por outro lado, ao buscarem uma aproximação com o poder institucional, seja através de parcerias com marcas, participações em eventos oficiais ou colaborações com veículos de mídia tradicionais, eles também negociam suas autoridades e buscam legitimar seu poder de fala.
Simoni Guedes (2004) discute a ideia de discursos autorizados e discursos rebeldes no contexto da comunicação. Os discursos autorizados são aqueles que são reconhecidos e validados pelas instituições dominantes, enquanto os discursos rebeldes desafiam as normas condicionais e propõem novas formas de compreensão da realidade. No caso dos youtubers, eles frequentemente se posicionavam em um espaço intermediário entre esses dois tipos de discurso.
A autorização do discurso de Flazoeiro encontra-se enraizada na cultura torcedora, remetendo aos primórdios dos torcedores que pleiteavam preços mais acessíveis. Flazoeiro, ao reivindicar seu espaço como torcedor do Flamengo no âmbito dos produtores de conteúdo, obtém a legitimação de seu discurso pela própria comunidade, que enxerga nele a representação do flamenguista autêntico.
Essa negociação é uma estratégia complexa que envolve equilibrar o discurso de ordinárias e de proximidade valorizadas pelo público digital com a necessidade de reconhecimento e validação por parte das instituições cabíveis. Assim, os youtubers e influenciadores digitais estão constantemente navegando entre os discursos autorizados e rebeldes, buscando afirmar sua autoridade jornalística em um cenário midiático em constante transformação.
A concepção de tradições, tanto em mídias tradicionais quanto nas emergentes, é um campo complexo de estudo que envolve uma análise de como as identidades são construídas e percebidas através da comunicação. A fala de Guilherme Pinheiro, em seu vídeo no YouTube, serve como um exemplo prático para explorar este tema à luz das teorias de Hall (2003) e Jenkins (2008).
Hall (2003) argumenta que a identidade é um processo em constante transformação, nunca completa e sempre relacionada às formas de representação (HALL, 2003). Neste contexto, as alterações de Flazoeiro podem ser vistas como uma construção contínua, moldada por suas performances e como o feedback dos receptores também molda o que ele representa em seus vídeos. À maneira como Flazoeiro articula sua fala, celebrando a vitória do Flamengo com termos coloquiais e referências culturais específicas, demonstra uma forma de prejuízo que é simultaneamente pessoal e coletiva, refletindo e moldando a identidade de sua audiência.
Paralelo aos conceitos acima citados, Jenkins (2008), discute como a convergência de mídias cria novos espaços para a produção e consumo de conteúdo, alterando as relações entre produtores e consumidores de mídia (JENKINS, 2008). Sob esta perspectiva, a plataforma do YouTube, utilizada por Flazoeiro, representa um espaço de convergência onde a interferência não é apenas performada, mas também co-criada pela interação com a audiência. A natureza interativa do YouTube permite que Flazoeiro responda e se adapte às expectativas de sua audiência, criando uma forma de ocorrência que é dinâmica e moldada pelo contexto digital.
Um exemplo dessa atuação é apresentado não apenas no espaço de tempo detalhado da Copa Libertadores de 2019, mas presente em todas as temporadas do futebol brasileiro: o mercado de transferências. Devido à grande interação do público que se envolve em conteúdos relacionados às transações de contratação de jogadores, é possível notar que esses influenciadores dedicam grande parte de seu repertório para a seleção do debate sobre o cenário de transferências. Isso fica evidenciado quando Flazoeiro dedica espaço para debate sobre uma possível contratação, alheio ao jogo de maior importância da temporada, até aquele momento, a final contra o River Plate, em Lima, no Peru.
Agora vamos falar sobre o jogo de amanhã, porque Jorge Jesus falou também sobre a contratação daquele peruano, qual o nome dele? Que jogou com ele no Al Hilal? Ó Rodrigo, qual o nome do peruano que o Jorge Jesus falou? Ah, é o André Carrillo (“JORGE JESUS ????FALA SOBRE PERMANÊNCIA NO FLAMENGO! CONTRATAÇÃO DE NOVOS JOGADORES E CONFIRMA ESCALAÇÃO!”, 2019)
“A televisão, que se pretende neutra, desempenha um papel fundamental na manutenção da ordem simbólica: fortalecer ou legitimar a visão do mundo daqueles que, em todas as sociedades, detêm o poder econômico e político.” (BOURDIEU, 1997).
O contraste entre a abordagem de influenciadores digitais, como Flazoeiro, e o padrão estabelecido pela mídia tradicional, particularmente em relação ao jornalismo esportivo, oferece um contraste evidente quando consideramos a importância histórica atribuída ao jornalismo isento e como isso se relaciona com o chamado “Padrão Globo “de jornalismo. Enquanto a mídia tradicional se mantém em sua busca pela objetividade e imparcialidade, os influenciadores digitais prosperam ao abraçar a subjetividade e a influência, refletindo uma mudança nas disputas de audiência e uma mudança na dinâmica de poder na esfera midiática.
Para enriquecer ainda mais a análise, é interessante como o Flazoeiro utiliza elementos específicos da cultura e do cotidiano dos torcedores do Flamengo em seus conteúdos. Isso cria uma identificação mais profunda e uma conexão emocional com seu público-alvo, algo muitas vezes ausente na abordagem mais imparcial e distante da mídia tradicional. Um exemplo disso é o conteúdo compartilhado após a partida entre Flamengo x River Plate, pela final da Copa Libertadores de 2019. O vídeo tem seu início já nos instantes finais da partida, enquanto Guilherme Pinheiro, que estava na arquibancada ao lado dos torcedores, capitão um ângulo fechado em selfie, e balbucia palavras enquanto chora copiosamente.
“Ganhamos a América! Nós vamos para o Mundial! Quem ganhou foi essa galera aqui. Quem ganhou foi torcedor do Flamengo. Eu estou desde sábado (16/11/19) fora de casa: Amanhã (24) é aniversário do meu sobrinho de 1 ano e eu estou aqui (Lima) e eu só volto pra casa terça-feira (26). O Flamengo é campeão da Libertadores e a gente viu isso. É campeão!”, (“FLAMENGO CAMPEÃO DA LIBERTADORES 2019! PÓS-JOGO”, 2019)
A transmissão em canais como o de Flazoeiro no YouTube, portanto, é uma aparência multifacetada que transcende a noção de ser simplesmente “real” ou “verdadeiro”. É uma performance contínua, influenciada tanto pela representação pessoal do criador de conteúdo quanto pelas características da plataforma de mídia. Através das teorias de Hall, compreende-se que o discurso de comunicação em mídias digitais emergentes é um processo colaborativo, constantemente reformulado pela interação entre o criador de conteúdo e sua audiência.
É exatamente na espetacularização da vida cotidiana do torcedor flamenguista que Flazoeiro cria uma relação de representação com o torcedor comum. Por vezes, pode-se presumir que esse comunicador digital representa os sentimentos e vivências dos simpatizantes do Clube de Regatas do Flamengo. Isso ocorre não apenas em sua comunicação verbal, mas também em elementos não-verbais, admitindo parcialidade em suas opiniões. Este método vai contra o padrão da mídia tradicional, que prega a imparcialidade como uma das ferramentas do fazer jornalístico. Bourdieu (1997) fala sobre a importância do papel neutro da televisão.
“A televisão, que se pretende neutra, desempenha um papel fundamental na manutenção da ordem simbólica: fortalecer ou legitimar a visão do mundo daqueles que, em todas as sociedades, detêm o poder econômico e político.” (BOURDIEU, 1997).
O contraste entre a abordagem de influenciadores digitais, como Flazoeiro, e o padrão estabelecido pela mídia tradicional, particularmente em relação ao jornalismo esportivo, oferece um contraste evidente quando consideramos a importância histórica atribuída ao jornalismo isento e como isso se relaciona com o chamado “Padrão Globo “de jornalismo. Enquanto a mídia tradicional se mantém em sua busca pela objetividade e imparcialidade, os influenciadores digitais prosperam ao abraçar a subjetividade e a influência, refletindo uma mudança nas disputas de audiência e uma mudança na dinâmica de poder na esfera midiática.
Para enriquecer ainda mais a análise, é interessante como o Flazoeiro utiliza elementos específicos da cultura e do cotidiano dos torcedores do Flamengo em seus conteúdos. Isso cria uma identificação mais profunda e uma conexão emocional com seu público-alvo, algo muitas vezes ausente na abordagem mais imparcial e distante da mídia tradicional. Um exemplo disso é o conteúdo compartilhado após a partida entre Flamengo x River Plate, pela final da Copa Libertadores de 2019. O vídeo tem seu início já nos instantes finais da partida, enquanto Guilherme Pinheiro, que estava na arquibancada ao lado dos torcedores, capitão um ângulo fechado em selfie, e balbucia palavras enquanto chora copiosamente.
“Ganhamos a América! Nós vamos para o Mundial! Quem ganhou foi essa galera aqui. Quem ganhou foi torcedor do Flamengo. Eu estou desde sábado (16/11/19) fora de casa: Amanhã (24) é aniversário do meu sobrinho de 1 ano e eu estou aqui (Lima) e eu só volto pra casa terça-feira (26). O Flamengo é campeão da Libertadores e a gente viu isso. É campeão!”, (“FLAMENGO CAMPEÃO DA LIBERTADORES 2019! PÓS-JOGO”, 2019)
Figura 15: FLAMENGO CAMPEÃO DA LIBERTADORES 2019! PÓS-JOGO: MENGÃO 2 X 1 RIVER PLATE

Diversos são os fatores presentes neste recorte de vídeo que aproxima o Flazoeiro do torcedor e potencial consumidor de seus conteúdos, em comparação com a mídia tradicional, resultando em uma maior proximidade com o público. A disposição geográfica do Flazoeiro dentro do estádio, especificamente na arquibancada, o coloca em um nível de acessibilidade que facilita a interação com o torcedor. Este ambiente é propício não apenas para a transmissão de conhecimentos entre as partes, mas também serve como um laboratório de experiências para o próprio Guilherme Pinheiro.
Ao estar posicionado no meio da torcida, o Flazoeiro vivencia e percebe aspectos únicos, indisponíveis para os profissionais que concentram sua atenção dentro das quatro linhas do campo. Esse momento proporciona a Guilherme a oportunidade de ouvir as “vozes autênticas” da torcida, algo muitas vezes abafado pelos cânticos e músicas e que não é captado pelos microfones ocasionais no campo. Estas observações singulares, quase etnográficas, conferem ao Flazoeiro uma posição privilegiada em comparação com os profissionais localizados na tribuna de imprensa.
“Peço a você que não está inscrito no canal, se inscreva no canal, acione o sino da notificação, deixe seu like, porque seu like ajuda muito nosso trabalho e nosso crescimento. Cara, parabenizo a torcida do Flamengo, estou rouco aqui, mano . Estava lá (na torcida), cantamos para caramba, apoiamos o tempo, a galera está cantando lá até agora. é julgado de final de Copa do Mundo e o cara fez o que ele fez aqui, um gol legal Aqui a gente não consegue ver, é muito rápido, mas eu coloquei no meu Twitter, ‘Vem cá, estava impedido?’ e ninguém falou que estava impedido um lance legal. A Globo demorou 5 minutos para exibir a reprise do VAR e o Galvão nem soube o que falar, segundo o que eu falei aqui no estádio. Um absurdo!”, (“FOMOS ROUBADOS?!!! MAS ESTAMOS VIVOS PÓS JOGO GRÊMIO 1 X 1 FLAMENGO”, 2019)
A performance de derrota de Flazoeiro emerge de sua capacidade de capturar e transmitir a experiência visceral do torcedor comum, como evidenciado pela sua descrição de estar na torcida, cantando e apoiando o tempo, até o ponto de ficar rouco, transcende a mera partilha de informações e envolvemos também suas experiências pessoais. Quando Flazoeiro usa “Fomos roubados”, ele se coloca como parte integrante e público-alvo do próprio conteúdo, ou seja, como um torturador legítimo. Esta vivência compartilhada com a audiência, enraizada na emoção e na paixão pelo jogo, estabelece uma conexão profunda e genuína com os seguidores do canal.
No discurso de Flazoeiro, observa-se uma tentativa de legitimação como uma voz autêntica no contexto do futebol, articulando uma narrativa que transita entre sua identidade de torcedor apaixonado, ao ponderar a legitimidade do lance, e seu questionamento à qualidade de apuração e interpretação do lança pela mídia tradicional. Esta abordagem quase militante evidencia a busca por mais espaço para os novos produtores de conteúdo, grupo no qual ele se inclui. Isso ressoa com o trabalho de Santos e Helal (2016), que discutem a evolução do papel do torcedor, de mero espectador para um agente ativo e militante na cultura do futebol, citando o questionamento ao preço dos ingressos como primeira reivindicação protestante.
Uma cultura torcedora mais visceral, ligada à classe trabalhadora, terá seus primeiros movimentos nesse contexto, quando os ingressos mais baratos permitiam o acesso aos fundos dos gols, conhecidos popularmente como terraços, onde não havia assentamentos, apenas entulhos e montes de terra (CRUZ, 2005). A profissionalização da prática do futebol não demoraria muito a acontecer, uma vez que os jogadores mais destacados complementaram principalmente sua renda familiar para além do trabalho exaustivo, ou mesmo surpreenderam a ausência deste. Os clubes de bairros e comunidades. Henrique S. Santos (2012) vai apontar registros jornalísticos que acusam a cobrança de ingressos no futebol em Salvador em 1907. (SIMÕES E HELAL, 2016, p. 58).
Paralelamente, a necessidade de Flazoeiro de se ausentar da torcida para cumprir suas obrigações profissionais reflete a dualidade de seu papel no mundo do futebol. Ao transitar entre a esfera do torcedor e do profissional, Flazoeiro não apenas revela a complexidade de sua posição na cultura futebolística, mas também demonstra um comprometimento com a responsabilidade na produção de conteúdo. Este equilíbrio entre paixão pessoal e dever profissional confere alteração e profundidade à sua voz, diferenciando-a das narrativas tradicionais impetradas pela mídia esportiva.
A infraestrutura disponibilizada aos organizadores de eventos desportivos para os profissionais de comunicação é restrita aos ambientes designados para tal, excluindo, portanto, a arquibancada. No entanto, até à ausência de equipamentos como tripés e estabilizadores de vídeo em um conteúdo gravado de forma mais pessoal, creditando uma suposta espontaneidade. Isso reforça a ideia de ter a própria torcida como plano de fundo nos conteúdos, contribuindo para uma corrente que questiona os padrões de qualidade, a exemplo do Padrão Globo de Qualidade.
O modo de construção de se mostrar autêntico de Flazoeiro ao compartilhar suas emoções e excitação pelo tempo cria um contraste evidente com a postura mais distante imposta pela mídia tradicional, que muitas vezes evita declarações clubísticas. No entanto, essa estratégia, embora fortaleça a conexão emocional com os seguidores, levanta questões importantes sobre a objetividade da informação transmitida.
Na análise das opiniões de Flazoeiro, observa-se que ao explicitar sua parcialidade, a figura em questão pode, em certa medida, comprometer a imparcialidade das informações divulgadas, gerando um debate contínuo entre a busca pelas complicações na comunicação e o compromisso com a fidelidade na representação dos fatos. Essa dualidade reflete a complexidade inerente à atuação dos influenciadores digitais, que navegam entre a expressão de opiniões pessoais e a responsabilidade de fornecer informações provisórias ao seu público.
Figura 16 – BELÍSSIMA VITÓRIA NA ESTREIA! PÓS-JOGO: SÃO JOSÉ 0 X 1 FLAMENGO | LIBERTADORES 2019 – Canal Flazoeiro

Figura 17 -BELÍSSIMA VITÓRIA NA ESTREIA! PÓS-JOGO: SÃO JOSÉ 0 X 1 FLAMENGO | LIBERTADORES 2019 – Canal Flazoeiro

E por que o outro se torna tão central no pensamento do Círculo de Bakhtin? Porque o interlocutor (real ou presumido) não é passivo. Ao perceber e compreender o significado (linguístico) do discurso, o interlocutor ocupa simultaneamente em relação ao locutor uma posição ativa responsiva. “Toda compreensão da fala viva, do enunciado vivo é de natureza ativa responsiva (embora o grau desse ativismo seja bastante diverso); toda compreensão é prenhe de resposta, e nessa ou naquela forma a gera obrigatoriamente: o ouvinte se torna falante” (BAKHTIN , 2006, p.271).
Se a realidade fundamental da língua é uma interação verbal, e a interação verbal se dá na e pela comunicação da forma como foi projetada acima, entende-se que qualquer estudo sobre a língua tem que se debruçar sobre sua manifestação real e objetiva, e não em manifestações abstratas ou hipotéticas. A linguagem, portanto, é a expressão de um em relação ao outro num determinado momento sócio-historicamente situado e, assim, marcado na temporalidade como um evento único e irrepetível. (MOLON, ND, & VIANNA, R., 2012, p. 148)
Mikhail Bakhtin (1895-1975) foi um importante pensador cujas ideias influenciaram diversas disciplinas, incluindo teoria literária, linguística, filosofia da linguagem e estudos culturais, além de auxiliar no desenvolvimento de teorias na área da linguística, literatura e filosofia no início do século XX . A principal contribuição do Círculo de Bakhtin é focada na compreensão da linguagem como um aspecto social e cultural, enfatizando a natureza dinâmica e dialógica da comunicação. Ao considerar a linguagem como uma entidade estática e isolada, Bakhtin propôs que a linguagem é inseparável do contexto social e que ela se manifesta por meio de interações entre diferentes vozes e pontos de vista.
Uma das ideias centrais do Círculo de Bakhtin é o conceito de “vozes sociais” ou “enunciados”, que são as diversas perspectivas e discursos presentes na comunicação. Bakhtin argumentou que o significado de uma expressão linguística é moldado pela interação de várias vozes sociais em um contexto específico. Outro conceito importante é o de “polifonia”, que destaca a multiplicidade de vozes e perspectivas presentes em qualquer discurso. Bakhtin via uma linguagem como uma arena em que diferentes vozes competem e interagem, criando uma dinâmica constante de significados em evolução.
Consequentemente, ser um influenciador no cenário esportivo, especialmente com uma audiência externa para uma única torcida, implica mais do que uma simples demarcação de posição identitária na arquibancada. Envolva, de fato, compartilhou experiências e preocupações comuns ao torcedor comum, construindo assim uma ponte simbólica que vai além do mero interesse esportivo, mas também de expandir a representação do sentimento torcedor em seus conteúdos. Essa interseção entre o embasamento teórico e a prática influenciada destacou a riqueza e a complexidade envolvida na construção e na comunicação de identidades no contexto digital.
Para aprofundar esta análise, você pode explorar como essas expressões de pertencimento clubístico são moldadas e reforçadas por meio da linguagem específica do universo esportivo. Além disso, considerar a dinâmica dialógica na formação da identidade do influenciador, na interação constante com seu público, proporciona uma visão mais rica do processo.
Damo (1998) fala sobre pertencimento clubístico e com quatro premissas como a solidariedade grupal em torno de um sentimento específico (pertencimento clubístico); a incerteza em relação às ações decorrentes desta solidariedade; a segmentação e fluidez grupal (Torcidas Organizadas/”outros” torcedores); e, finalmente, as disputas em torno de valores (raça, classe social).
Um exemplo claro de como essas quatro situações estão articuladas na “comunidade de sentimento” e no contexto do pertencimento clubístico, pode ser encontrado em como Flazoeiro estimula a solidariedade grupal quando usa as informações que possui como produtor de conteúdo, como serviço para os torcedores que acompanhe com ele a experiência de assistir o Flamengo do estádio.
“Calma ai, deixa eu falar com a galera aqui no estádio. Galera, temos duas escalações. No twitter oficial do Flamengo saiu uma escalada com o Arão. Fora do twitter saiu sem o Arão. Aí está, temos que confiar no Twitter principal. Mas pode ser que alguém pegou, fez a mesma arte e mandou pra rolo” (“LIVE PRÉ-JOGO”, 2019)
Outro ponto a ser considerado é a maneira como a marcação de posição identitária se traduz em eficácia na relação entre o influenciador e sua audiência. A vivência compartilhada na arquibancada não apenas solidifica a identidade do comunicador digital, mas também cria uma conexão com os seguidores, estabelecendo uma base sólida para a influência exercida.
Figura 18 – ESTAMOS NA FINAL!!! PÓS-JOGO: FLAMENGO 5 X 0 GRÊMIO | LINDA FESTA DA TORCIDA | LIBERTADORES 2019 – Canal Flazoeiro

Figura 19 – ESTAMOS NA FINAL!!! PÓS-JOGO: FLAMENGO 5 X 0 GRÊMIO | LINDA FESTA DA TORCIDA | LIBERTADORES 2019 – Canal Flazoeiro

Dessa forma, percebemos que o Círculo de Bakhtin, ao oferecer uma abordagem teórica que enfatiza a natureza dinâmica e dialógica das expressões de pertencimento clubístico, se revela como uma ferramenta valiosa para analisar e compreender os discursos usados ??- pelos influenciadores esportivos, especialmente quando se trata de públicos específicos, como os torcedores de uma única equipe, como observamos a relação de Flazoeiro e a torcida do Clube de Regatas do Flamengo. A jornalista Cristina Dissat, fundadora do Blog Fim de Jogo, primeiro blog credenciado como imprensa esportiva oficial da Associação Cronistas Esportivos Rio Janeiro (ACERJ), acirra a distância entre os profissionais da mídia tradicional e pontua diferenças substanciais na atuação em comparação com os produtores de conteúdo digital.
Eu acho que esse tipo de postura você aprende na faculdade e aprende a ter suas condutas éticas. Assim como você também tem que ter esse posicionamento na hora de estar numa rede coletiva. Você não pode entrar numa coletiva berrando como se fosse um torcedor, fazendo perguntas como se fosse um torcedor. Se aquele espaço ali não é para ser torcedor, é para ser jornalista. Então você tem que separar. É difícil, lógico, que é difícil, porque ninguém faz jornalismo esportivo sem ter um tempo do coração. Mas você tem que fazer o máximo possível para ser correto. Isso é ético. Se você tem um canal onde só fala de um clube, você pode muito bem se posicionar (…) Você não precisa ser exagerado nem ser submisso. Você pode fazer uma pergunta bem incisiva, dura, e ser assertiva, sem fazer escândalo ou oba oba” (“PROFISSÃO JORNALISTA”, 2020)
Esta observação de Dissat ressalta a complexidade inerente ao papel dos influenciadores digitais no jornalismo esportivo. Eles atuam em um terreno onde a paixão pelo clube e a responsabilidade profissional coexistem, muitas vezes de maneira tensa. A postura adotada por influenciadores como Flazoeiro, que se posicionaram claramente como torcedores, contrastou com a abordagem mais reservada, objetiva e prática, esperada dos jornalistas esportivos. Este contraste não reflete apenas diferentes estilos de comunicação, mas também diferentes expectativas de suas respectivas audiências.
A partir da perspectiva de Bakhtin, esse cenário pode ser visto como um espaço onde diversas vozes e vozes estão em constante interação e negociação. O influenciador, ao assumir a voz do torcedor, dialoga não apenas com sua audiência, mas também com o universo mais amplo do jornalismo esportivo e da cultura futebolística. Como Bakhtin sugere, “o enunciado vivo é de natureza ativa responsiva” (BAKHTIN, 2006, p.271), implicando que o influenciador não apenas comunica, mas também responde e se adapta às reações de sua audiência, redefinindo constantemente seu papel e sua abordagem.
Além disso, a questão da ética jornalística, levantada por Dissat, traz à tona o desafio enfrentado pelos influenciadores em equilíbrio e profissionalismo. A habilidade de ser “assertivo, sem escândalo fazer ou oba oba” é crucial para manter a ressonância e a confiança da audiência, ao mesmo tempo em que se mantém fiel à paixão e à identidade do torcedor. Este equilíbrio requer uma reflexão constante sobre a prática comunicativa e sobre a relação entre o influenciador, sua audiência e o objeto de sua paixão.
Flazoeiro ilustra como os influenciadores digitais no campo do jornalismo esportivo estão redefinindo as fronteiras da comunicação e da expressão da cultura torcedora. Através da lente teórica de Bakhtin, torna-se evidente que o discurso desses influenciadores é um exemplo vivo da natureza dinâmica e interativa da linguagem, revelando as nuances e as complexidades envolvidas na construção de identidades no espaço digital. O desafio de equilibrar paixão e profissionalismo é uma característica marcante desses comunicadores, que continuam a moldar a paisagem do jornalismo esportivo contemporâneo.
Referências Bibliográficas
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
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BOURDIEU, Pierre. Na televisão, segue a empresa do jornalismo. Paris, Liber, 1996.
DAMO, AS Para o que der e vier?: o pertencimento clubístico no futebol brasileiro a partir do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense e seus torcedores. 1998. Disponível em: < https://lume.ufrgs.br/handle/10183/257939 >. Acesso em: 17 fev. 2024.
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HELENA SIMÕES, S.; PRIOLLI, G. A deusa ferida: por que a Rede Globo não é mais a campeã absoluta de audiência – Silvia Helena Simões Borelli, Gabriel Priolli – Google Livros. A deusa ferida: por que a Rede Globo não é mais a campeã absoluta de audiência, 2000. Disponível em: < https://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=UQEQvmqVgF0C&oi=fnd&pg= PA9&dq=padrao+tecnico+rede+globo&ots=ZOr4_nt3HS&sig=Jan6FjZESIz8gjrIP1Xc43yUFKo#v=onepage&q=padrao%20tecnico%20rede%20globo&f=false >. Acesso em: 15 fev. 2024.
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PROFISSÃO JORNALISTA: CRIS DISSAT: “JORNALISMO, INFLUENCIADOR DIGITAL E MÍDIAS INDEPENDENTES”. , 11 jun. 2020. . Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=RfsBYL2Ny2c >. Acesso em: 22 fev. 2024.