Torcer é vida!

Se há algo que é praticamente de graça nessa vida é torcer. Você escolhe um time de futebol, e, a partir disso, tenta acompanhar o que acontece com ele ao longo dos anos. Quem é torcedor ouve as notícias no rádio, assiste aos gols pela televisão e segue seu clube pela internet. Certo. Quase tudo de graça: precisa ter os aparelhos, luz em casa, conexão.

Se der sorte de torcer por um time que está presente durante décadas na elite do futebol brasileiro, é provável que você tenha inúmeras histórias para contar em sua memória e registradas em imagens da TV, em que não faltam derrotas épicas, vitórias heroicas e jogadores inesquecíveis.

Torcer é um ato, comportamento, hábito e uma forma de se conectar aos seus familiares, pessoas que estão ao seu redor no trabalho e no lazer, e até motivo de conversa com desconhecidos que vão além dos comentários sobre o weather talk.

Torcer te faz cidadão da sua cidade, estado e país. É pertencimento e identidade. Depende também da classe social, identidade, gênero e geração. 

Que objeto farto para as ciências sociais!

Torcer te leva a momentos de brincadeira, chacota, conflito e desentendimentos. Não se sai impune de uma conversa entre pessoas que torcem por times diferentes – até entre torcedores do mesmo time tem confusão, porque não haveria entre aqueles que são adversários de longa data, por exemplo? É inútil tentar convencer o outro que a gente torce pelo melhor time, pelo time certo, pelo mais amado… tantas qualidades que também estão presentes nas equipes dos outros. 

Torcer é um aspecto da vida social, na combinação entre você e os outros. É aprender a ganhar e perder. Educação. Cultura. Democracia. 

Foto: Danilo Fernandes

Dizem que política, futebol e religião, no Brasil não se discutem. Tal frase circula em nosso imaginário, servindo quase como um ponto final em assuntos que não deveriam vir à tona em um domingo em família, ou na mesa de um bar nas altas horas da madrugada.

Talvez por culpa das redes sociais. Talvez por culpa da televisão, do rádio e do jornal impresso, e até mesmo daquele objeto esquecido no passado, o livro. Desculpas que vão modificando ao longo do tempo, que tentam encontrar o vilão da vez. 

Em tempos de radicalização política, o esporte pode ser uma forma de distensionar. Ou não. Pode também ser mais um fator de acirramento entre os que pensam diferente. 

Outro dia fui a um jogo de futebol de base. Eram equipes entre 09 e 11 anos. Torcidas compostas por familiares, pais, mães, avôs e avós. Separadas por cordas, com seguranças ao redor. Muita truculência e nada de educação pelo esporte: xingamentos à arbitragem, falas de desdém sobre as crianças, comportamentos belicosos. Dentro e fora do campo. Um show de horrores!

Tem uma entrevista do Zico que ele fala da amizade com Roberto Dinamite. Jogaram juntos, em clubes diferentes desde as categorias de base. Eram adversários, não inimigos. As famílias se conheciam. Zico inclusive chegou a vestir a camisa do Vasco, em um jogo comemorativo. 

Consegue imaginar isso hoje em dia?


Referências (dicas de pesquisa pelo autor): 

Tradição e contratos: discursos em disputa pelo Maracanã

A violência em categorias de base do futsal no Rio de Janeiro

Roberto Dinamite fez Zico vestir a camisa do Vasco 

 

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