É com alguma surpresa e um imenso pesar que recebemos a notícia de que o brasileiro Vinicius Jr. não foi escolhido como melhor jogador do ano na premiação da Bola de Ouro da revista France Football.
O que o “campo” fala da última temporada europeia, contudo, é algo completamente diferente. Decisivo na campanha que culminou com os títulos da La Liga e da Champions League para o Real Madrid, Vinicius foi, com justa razão, aclamado não só pelos torcedores da equipe madridista, bem como por todos aqueles fãs do bom futebol praticado pelo brasileiro, como o melhor jogador do planeta.
“Vini Balón de Oro” é o que diziam os torcedores espalhados pelos estádios da Espanha e também pelos fãs amontoados nas grades do lado de fora da cerimônia desta segunda-feira. Vinicius assim seria celebrado nas arquibancadas de cimento e quadras de terra batida, onde qualquer menino ou menina se encanta com o jogo da bola e da ginga que emana toda vez que o brasileiro aparece com seus gols decisivos e atuações históricas.
Vinicius vem de uma realidade de menos investimento do Estado, driblando todo tipo de adversário, entre os quais não se limitam os que tentam (e falham em) parar o brasileiro dentro de campo. Vini baila num país onde se é abertamente racista, muitas vezes sem nenhum tipo de punição. Vini é resistência, é denúncia, é dança na cara de uma sociedade que mascara preconceitos sob alegações de que o brasileiro seria um tipo provocador, como se dessa forma o racismo que o jogador do Real sofre pudesse ser justificado.
Com toda a justiça do mundo ao incrível jogador que é o laureado Rodri Hernández, a temporada 2023/24 não faz sombra à 2022/23 do volante do Manchester City. Na ocasião, ele havia vencido todos os títulos possíveis com a equipe comandada por Pep Guardiola e, mesmo assim, ficou fora do top-3 da Bola de Ouro.
A narrativa criada em favor do meia também cai por terra se pensarmos que o escolhido pela equipe inglesa como melhor jogador do clube no ano foi Phil Foden. Na Espanha campeã da Eurocopa, o protagonismo ficou centrado em jogadores como Yamal e Nico Williams, que ainda contaram com participações sólidas de atletas como Olmo, Fabián e Carvajal, que também tiveram um melhor torneio que o atleta do Manchester City. Para a Uefa, foi o suficiente para escolher Rodri como melhor jogador do torneio… algo que parece ter impactado profundamente o eleitorado da Bola de Ouro.
Para desespero dos detratores, Vinicius Jr. não baixará a cabeça para o boicote discriminatório conduzido pelo colegiado da France Football. Como ele mesmo disse em suas redes sociais, “Eu farei 10x se for preciso. Eles não estão preparados”. E é para continuar inspirando milhões que o brasileiro não deve parar de bailar. O jogador do Real Madrid, símbolo global da luta antirracista, incomoda o povo europeu ao denunciar o seu racismo, e ele sabe disso.

O “efeito Vini Jr.” vai muito além do campo, e como o ídolo de milhões que ele é, o filho mais pródigo de São Gonçalo sabe bem o seu papel. Poucos jogam como a cria do Ninho do Urubu, mas menos nomes ainda sabem do seu papel social como atleta do Real Madrid. Um ícone, uma inspiração, um homem preto retinto no topo da cadeia do futebol. Um rei sem coroa, escolhido pelo clamor popular, onde quer que vá.
E não é nenhuma coroa entregue pelo colonizador que tira a realeza desse menino de ouro. Multicampeão dentro de campo, fundamental na luta antirracista fora dele, Vinícius Jr. é, sem dúvidas, um dos jogadores mais necessários a pisar num campo de futebol. Um craque histórico, autor de gols em duas finais de Liga dos Campeões, e que já sabe, porque o seu povo fala, que é o melhor jogador de futebol do mundo.
Referências
Bola de Ouro 2024: Rodri é eleito o melhor jogador do mundo, e Vini Jr. é segundo | Globo Esporte
Vini Jr. venceu com sobras votação popular ligada à Bola de Ouro; veja | Globo Esporte
Fãs gritam Vinicius Jr. na Bola de Ouro antes da premiação | Globo Esporte
Foden vence o prêmio de Jogador da Temporada Etihad 2023/24 | Site do Manchester City